A menos que algum estudioso desencave um documento de época que nunca
veio à luz, essa questão não tem uma resposta definitiva, do tipo que se
possa escrever na pedra. Sebo como sinônimo
de alfarrábio, ou seja, loja de livros usados, é um brasileirismo que
surgiu informalmente, a princípio como gíria, e sobre sua origem tudo o
que há são especulações. Isso não nos impede de, por eliminação, chegar a
uma resposta provavelmente correta, como veremos adiante.
Primeiro, vamos às eliminações.
A tese do SEcond-hand BOok me parece mais falsa do que promessa de
candidato a vereador. Talvez fosse defensável se houvesse em inglês,
mesmo que apenas num vilarejo esquecido do País de Gales, a palavra sebo
com o mesmo sentido, mas não há. Seria necessário imaginar a existência
em algum ponto da história de um estabelecimento comercial brasileiro,
anglófono e com peso cultural suficiente para dar origem a uma acepção
popular – e do qual, apesar dessa popularidade, não restasse registro
algum. Na seara da etimologia fantasiosa, que agrada a tanta gente,
prefiro a tese que deriva sebo das iniciais S.E.B.O., isto é,
Suprimentos Econômicos para Bibliófilos Obsessivos. Soa melhor, não soa?
O único problema é que acabo de inventá-la.
A história da
velha vela de sebo que escorre sobre as páginas não chega a ser
exatamente delirante, mas também reluto em comprá-la – mesmo a preço de
sebo. O maior problema aqui é cronológico: tudo indica que a acepção
livreira de sebo entrou em circulação em meados do século 20, quando a
leitura à luz de velas já era história antiga.
Há quem cite
ainda, para acrescentar à confusão uma tese não mencionada por Bruno, o
caminho erudito que o etimologista brasileiro Silveira Bueno encontrou
para explicar o sentido da palavra “sebenta”, que em Portugal é sinônimo
de apostila, caderno de apontamentos das lições dadas em sala de aula. O
estudioso foi buscar a origem do termo no português arcaico
“assabentar”, isto é, instruir, o que é interessante. Mas Silveira Bueno
em momento algum sugere que se recorra à etimologia de “sebenta” para
explicar sebo. Além do fato de a primeira palavra ser portuguesa e a
segunda, brasileira, apostilas usadas nunca foram itens característicos
de tal tipo de comércio.
Resta de pé, assim, a hipótese mais
simples: a de que essa acepção de sebo (do latim sebum, “gordura”) tenha
surgido como metonímia brincalhona a partir da ideia irrefutável de que
livros muito manuseados ficam ensebados, sujos, engordurados. Com
poucas exceções, a simplicidade costuma ser um bom norte para quem
navega no mar alto da etimologia. Essa tese eu compro sem susto – pelo
menos até alguém descobrir num sebo um volume sebento no qual fique
provado que S.E.B.O. não era uma ideia tão maluca, afinal.
Segue o link dessa reportagem feita pela revista Veja: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/consultorio/por-que-a-loja-de-livros-usados-se-chama-sebo/#.UF9yPrs73CE.facebook
Adorei o post, não sabia disso.
ResponderExcluirOlha, tá rolando sorteio lá no blog, participe: http://www.vitrinemissb.com/2013/07/sorteio-miss-b-paleta-sephora.html
bjssss