Tereza Saraiva
As avaliações nacionais e a internacional – PISA – têm evidenciado o
baixo desempenho escolar dos alunos da educação básica brasileira.
Nossos resultados, ressaltam o mau desempenho em leitura, a dificuldade
de compreender um texto, localizar e associar informações, tirar
conclusões. A deficiência na leitura interfere no desempenho escolar dos
alunos, nas demais disciplinas. Muitos erros cometidos em matemática
ocorrem em consequência da incapacidade de ler e compreender o enunciado
de uma questão, de um problema. Para melhorar a qualidade da educação
brasileira, faz-se necessário criar, nos alunos, o hábito da leitura e
desenvolver a capacidade de compreender textos complexos. Este esforço
não pode ficar restrito à ação da escola. O hábito da leitura começa em
casa.
As famílias devem influenciar seus filhos para que estes adquiram o
salutar e prazeroso hábito, oferecendo desde cedo, não só seu próprio
exemplo de leitor, mas colocando, à sua disposição, jornais, revistas,
livros que despertem seu interesse, adequados à idade e ao seu nível de
letramento. Lamentavelmente, o hábito da leitura não é uma constante
entre os brasileiros. Subtraindo os que não sabem ler, é grande o
contingente que não conviveu num ambiente cultural, nem em suas casas,
nem na maioria das escolas que frequentaram ou frequentam. Em casa, não
foram incentivados pelos pais a valorizar a cultura, para ampliar-lhes
os horizontes, preparando o terreno para uma eficiente escolaridade.
Nas escolas de educação básica, também, não encontraram esse
estímulo. Não é comum a existência de bibliotecas e quando existem, não é
raro encontrá-las fechadas. São bibliotecas mortas. Os livros lá estão
sem cumprir a finalidade de enriquecer o imaginário dos alunos. Além
disso, o acervo é o mesmo de muitas décadas. São bibliotecas que não se
beneficiaram da necessária aquisição de novos livros para sua
atualização e enriquecimento. Além disso, pelo exíguo tempo diário de
aula, os professores raramente destinam tempo suficiente para a leitura,
que não precisa, necessariamente, ser só de clássicos da literatura,
mas de jornais, revistas, gibis e blogs, na internet. Nossas escolas não
estão preparadas para formar leitores. A começar pelos professores,
que, em geral, não têm o hábito da leitura. Para que os alunos aprendam a
ler e a decodificar o que leem, é necessário que os alfabetizadores
dominem a técnica da leitura.
Para despertar o gosto pela leitura é necessário também, que os
professores desenvolvam atraentes projetos, como, por exemplo, as rodas
de leitura, que podem ser eficazes em qualquer idade. É preciso, também
que os projetos contemplem gêneros diferentes de leitura. Uma outra
iniciativa para desenvolver a habilidade e o gosto pela leitura, é tirar
a exclusividade do ensino da leitura dos professores de língua
portuguesa, dividindo esta responsabilidade com o resto do corpo
docente. Para despertar o interesse dos alunos para a leitura, é
necessário que os alunos decidam com os professores quais os livros que
querem ler e em quanto tempo.
A leitura de um determinado livro, porque o professor o considera
interessante, não é o melhor caminho para incentivar o interesse do
aluno. O esforço feito pelos professores não será suficiente para
transformar os alunos em leitores. Será mais fácil atingir essa meta, se
eles encontrarem fora da escola, em casa, entre os amigos, na
biblioteca do bairro, o mesmo ambiente de estímulo. A sociedade
brasileira sofre da ausência de uma cultura que estimule a leitura.
O Brasil tem uma biblioteca pública para cerca de 33 mil habitantes.
Setenta por cento das escolas públicas nem sequer possuem bibliotecas. O
brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Nos Estados Unidos e na
França, a média é 10, e na Finlândia, 21. Isto tudo nos leva a concluir
que não será tarefa fácil, em curto prazo, melhorar o nível de leitura
de nossas crianças e jovens e fazer, dos brasileiros, leitores
habituais. Mas não há de ser por isto que devemos esmorecer.
Talvez só possamos incutir o hábito da leitura, na próxima geração.
Para isto, temos que começar já. Cabe aqui lembrar o exemplo da Coreia
do Sul. Há 60 anos, o país tinha altos índices de analfabetismo e quase a
metade das crianças e jovens estava fora da escola. Há 40 anos, foi
feita uma reforma educacional que apostava na leitura como base.
Bibliotecas exclusivas para crianças foram instaladas em Seul,
financiadas por empresas e fundações. Uma das maiores redes – Crianças e
Bibliotecas – nasceu da iniciativa de um grupo de mães, preocupadas com
o futuro dos filhos.
Hoje, na avaliação internacional – PISA – a Coreia do Sul está no
topo do ranking, ultrapassando a Finlândia. O Brasil precisa mirar-se
neste e em muitos outros exemplos, para formar uma geração de leitores.
Começando pelas crianças e adolescentes que frequentam nossas escolas,
formaremos futuros adultos que, por terem adquirido esse saudável
hábito, o transmitirão a seus filhos, incutindo no povo brasileiro, o
amor pela leitura. Com isto, além de melhorarmos o desempenho escolar
dos alunos, teremos uma população com melhor nível cultural.
Não é uma tarefa impossível, no que se refere ao sistema educacional
brasileiro. Já provamos, nas últimas décadas, que conseguimos resolver
vários desafios de natureza quantitativa. Precisamos encontrar as
respostas para os problemas qualitativos, dentre os quais avulta a
melhoria da qualidade do processo ensino e aprendizagem que, embora
dependa de vários fatores, externos e internos aos sistemas de educação
básica, tem no domínio total da leitura e da escrita, por parte dos
alunos, um importante e decisivo fator para melhorar o desempenho
escolar das crianças e jovens e o padrão cultural dos adultos de amanhã.
Fonte: Folha Dirigida
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